domingo, 7 de março de 2010

O Princípio da Senilidade


Já haviam me falado que depois dos cinqüenta, a descida é vertiginosa e triste. É colesterol, ácido úrico, taxa de glicose, triglicérides (está mais para “pentaglicérides”, imitando o Brasil) tudo nos píncaros, fora de controle.

Não se pode comer mais gordura, e tudo tem que ser “light”, “diet”, leve. Daqui a pouco estaremos comendo sopa de isopor ou de algodão...

A próstata dilatada sugere exame semestral (vou procurar um proctologista japonês....) e o mini-estupro torna-se, mais uma vez, inevitável.

A coluna, coitada, é um emaranhado de bicos-de-papagaio, escolioses, e hérnias de disco em c4/c5 e c5/c6. O nervo ciático é o único nervo que endurece sem que eu me preocupe nem tenha que me concentrar .

Por conta da glicose em 120, 130, 140 km/hora, igual ao Roberto Carlos nas curvas da estrada de Santos, fico fugindo até de abelha.

Os zumbidos no ouvido lembram cigarras insistentes que com seus sons ininterruptos parecem anunciar a chegada da chuva, do sol, da noite e do dia.

Ainda bem que a labirintite só me ataca de vez em quando. A gastrite e a esofagite estão dando uma trégua, mostrando compreensão e companheirismo.

Minha mulher mesmo é que sempre fala: ainda bem que você não está com "paumolite"...
Vou ao médico de insistente, só para fugir da rotina e ouvir o mesmo blá-blá-blá. Já sei do diagnóstico e da receita de cor e salteado.

O subconsciente, mais que consciente, já o diz e orienta sobre o tratamento adequado: caminhar, fazer exercícios, reduzir consumo de álcool, dormir cedo, etc, etc, etc.

Já havia ido ao trabalho com sapatos trocados e fui alertado por um amigo na porta do Banco. Ainda bem que os sapatos eram de pares marrons.

Às vezes não me lembro onde deixei o carro: no estacionamento do Banco ou na quadra residencial? É melhor do que não saber mais onde mora ou mesmo chegar em casa e falar pra esposa: eu lhe conheço de algum lugar...
Ontem aconteceu fato inusitado: diante do cansaço do dia de trabalho não houve prévias na relação amorosa que intentei junto a minha mulher. Foi meio na base do “abre alas para a minha bandeira” mesmo diante do bagaço em que me encontrava.
Não era lá aquela bandeira tipo “independência ou morte”, mas estava desfraldada a meio mastro. Tinha que honrar a firma e atualizar um pouco o débito amoroso de caixa.
O preservativo clássico entrou no esquema, mesmo a contragosto, para evitar concepção indesejada (já temos, desse casamento, um bacurizinho de 1 ano e sete meses e outro de 4 meses. Fora os 4 marmanjos anteriores de outros carnavais...)
Depois do coito, saciado e detonado, o guerreiro conversou duas ou três abobrinhas com a comadre e, na terceira abobrinha, caiu placidamente nos braços da deusa do sono que o autor desconhece o nome.
Por volta das duas da manhã, senti vontade de ir ao banheiro. Cambaleante ainda, meio que sonâmbulo, marquei o rumo do vaso e o banheiro continuou no escuro para não acordar o bebê que havia requisitado a invasão de nossa privacidade na base do berro.
Comecei o processo entre dormindo e acordado e, instantaneamente, caí na real: Não ouvi barulho da urina caindo no vaso. E nem no ambiente ao redor do vaso. Passei as mãos pelas pernas com receio de estar urinando em mim mesmo e nada. Foi aí que peguei no “possante adormecido” e vi que ele estava ainda encoberto pelo preservativo da farra de horas antes e eu estava urinando dentro da camisinha. Comecei a rir. Falei para minha esposa que se bolou de rir também. Duas da manhã e eu enchendo a camisinha de urina que se misturava aos espermatozóides enjaulados e sufocados.
Pensei no prenúncio do fatídico e triste começo da senilidade, que descamba para a velhice irreversível e sem retorno.
Cada minuto precisa agora ser vivido como se fosse um século e pedir sempre a Deus para esperar um muito mais antes de me chamar para o outro lado da ponte.
Curtir esposa, filhos e netos como se fosse a primeira vez. Gastar mais que economizar, pescar, reunir-se com os amigos sempre e não se preocupar com futilidades mundanas e passageiras.

Bem, voltando ao que me ocorreu ontem, resta-me sair na esportiva e pensar:
É bem melhor mijar na camisinha que borrar as calças.

Aparício Secundus Pereira Lima

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