terça-feira, 3 de novembro de 2009

Doces lembranças

Fonte: Correio Braziliense
http://www2.correioweb.com.br
Everton Venâncio
Da equipe do Correio

Depois de ter adocicado a infância de pelo menos três gerações, muitas guloseimas tradicionais foram aposentadas do mercado. Outras ainda resistem, apesar da concorrência.

Eles fizeram parte da infância de muitas gerações. Atravessaram anos e anos, adoçando os recreios da garotada nas escolas brasileiras. Muitos sobrevivem até hoje. Outros, porém, só fazem parte de uma doce recordação. Paçoquinha, bala-chiclete, Pirocóptero, mariola, Mandiopã, guaraná Bidu... Quem nunca saboreou, pelo menos uma vez, alguma ou todas essas guloseimas? Algumas delas começam a dar pinta de que se aposentarão em breve. Outras continuam com fôlego de atleta na briga para se manter no mercado. Muitas, entretanto, simplesmente desapareceram do mapa.

Do legado das décadas de 50 e 60, sobreviveram os Chicletes Adams, o Ping-Pong, as balas Toffee, a Geléia de Mocotó Colombo e os salgadinhos Elma Chips. Depois de incontáveis mudanças em seus rótulos e embalagens, eles continuam firmes e fortes. Por outro lado, marcas como o refrigerante Bidu, os sorvetes Dahum, as balas Banda e Soft, o pirulito do Zorro e o gorduroso Mandiopã (que era frito na hora de ser comido) parecem ter evaporado. Desapareceram. Encontrar unzinho hoje em dia é tarefa amarga.

Para o proprietário da Docemel Comercial de Doces (Ceilândia Sul), Geraldo Luís de Souza, 51 anos, a razão para o sumiço de produtos que marcaram época está na grande variedade de guloseimas que são despejadas no mercado diariamente. ‘‘Hoje a garotada gosta mesmo é de novidade. Além disso, essa geração tem muita opção na hora de comer — o que não acontecia com as gerações que passaram’’, comenta, com ar saudosista.

Há 16 anos no ramo, Geraldo afirma que a tendência é que os velhos produtos se aposentem logo ou que passem por uma reciclagem em sua imagem e sabor. ‘‘Hoje, tudo é moda. Todo produto que a TV mostra passa a ser vendido como água, durante um determinado período. Depois é aquela história... acaba caindo no esquecimento. Daí vem outro e toma o seu lugar’’, conta.

Para explicar a força de quem continua adoçando a atual geração mirim, Geraldo aponta a tradição, o investimento em novos sabores, as embalagens mais transadas e também as propagandas — ‘‘muita propaganda’’, enfatiza. ‘‘Quando a marca entra na cabeça das crianças, dificilmente o produto sai de linha, pois a procura é sempre contínua.’’

Falência
Já o representante da Santa Helena Indústria de Doces para a Região Centro-Oeste, Rogério Medeiros de Souza, 35 anos, aponta o que seria o principal motivo para explicar a repentina saída de clássicos, como as balas Banda. ‘‘Posso dizer que de 50% a 60% do produtos que eram famosos foram vítimas da falência de seus fabricantes’’, explica.

A empresa que Rogério representa em Brasília está há 50 anos no mercado e é dona de um dos maiores sucessos de vendas do segmento, a Paçoquita. ‘‘Em forma de quadrado embalado, rolha, ou rolha embalada, a Paçoquita já está sendo vendida há mais de 30 anos e até hoje faz o maior sucesso’’, diz.

De acordo com Rogério, a qualidade e a aprovação definitiva do consumidor são os pontos fundamentais para a sobrevivência de um produto nesse meio. ‘‘Quem faz o produto se manter no mercado é o consumidor.’’

Se a única saída é relembrar o velho gosto daquela tradicional guloseima, então vamos lá. Da década de 70, os consumidores devem se lembrar da grande variedade de doces nas prateleiras de cantinas, padarias e mercearias da cidade. O doce de batata-doce, a mariola, os pirulitos em forma de guarda-chuva, o Dip’n’lik (pirulito que era mergulhado num saquinho cheio de açúcar), as balinhas Sete Belo (campeões de venda até hoje), as balas-chiclete (que estão quase aposentadas), o refrigerante Grapete, entre tantos outros.

Os anos 80 trouxeram um monte novidades, como os biscoitos dos Monstrinhos Crek-Crek, ou o ícone das pipocas doces, a Nhac, também chamada de Isopan. Não pode ficar de fora o fenômeno Buballoo — primeiro chicle de bola com recheio líquido.

A estudante do 5º semestre de geografia da Upis, Vivian Braz Silva, 26 anos, não se esquece das lambanças que fazia no açucarado recreio da escola. ‘‘Me lembro de colecionar as figurinhas de Ping-Pong da She-Ha e de jogar bafo com elas. Também sinto saudade dos suspiros e bananadas que comíamos naquele tempo’’, conta. Então, já que sente saudades, por que não comer os doces que ainda existem? ‘‘Ah! Hoje eu não posso mais. Engordam. Deixa para as crianças, mesmo’’, brinca.

O contador Wilton Sales da Cunha, 35 anos, prefere lembrar do refrigerante Baré, que era vendido no mesmo vasilhame da cerveja em garrafa, a ter que falar dos doces. ‘‘Todas as vezes que meu time de futebol jogava e vencia na escola, comemorávamos tomando Baré’’, relembra. ‘‘Tinha a Baré-cola, Tuti-frutti e até de laranja. A gente fazia a festa. Pena que o Baré tenha sido aposentado’’. Hoje, Wilton continua bebendo depois dos jogos de futebol e, não por coincidência, o vasilhame continua o mesmo. ‘‘Mas o conteúdo da garrafa é diferente’’, diz o engraçadinho. ‘‘Confesso que gostaria de tomar de novo um Baré.’’

Não importa o vai-e-vem do mercado, nem quem ficou na briga pelo gosto da garotada do século 21. Recordar as delícias de outrora não faz mal a ninguém. Matar a curiosidade de saber o que ainda existe e o que ficou só na lembrança das pessoas pode ser tão doce quanto a balinha do passado. É o que insinua José Salustiano dos Santos, vendedor ambulante de doces, chocolates e balas, que trabalha há 25 anos nas portas de escolas públicas de Taguatinga. ‘‘Muitos doces desses antigos que você está procurando, meu rapaz, você só vai encontrar mesmo é na memória das pessoas. A maioria acabou’’, conclui.


QUE FIM LEVOU?

- Balas Mocinho
Sumiram

- Balas Juquinha
Desapareceram

- Balas Sete Belo
Líder de vendas até hoje

- Balas Soft
Saíram de linha

- Balas Xaxá
Só mesmo a vovó vai lembrar

- Bombom do Fofão
As crianças de hoje nem sabem quem é Fofão

- Balas Banda
Tradicionais e muito boas, porém fora de circulação

- Balas de Coca-Cola
Já eram

- Balas Dadinho
Nossa reportagem encontrou. Ainda vende bem

- Chocolate Lolo Hoje é chamado de Milkbar. Continua no mercado

- Pirulitos guarda-chuva
Doce da década passada, mas ainda existem

- Casca de sorvete com maria-mole e bexiga na ponta
Continua vendendo como água

- Chicletes Azedinho
Têm vários similares, mas o original acabou

- Cigarrinhos de chocolate
Politicamente incorreto, mudou de nome, mas não o formato

- Chiclete Ping Pong
Nunca sai de linha

- Chup-Chup (doce de leite pastoso)
Ainda pode ser encontrado em algumas lojas

- Chicletes Adams
Vão bem, obrigado!

- Dip'n'link
Ainda é vendido

- Mandiopã
Parou de ser vendido há anos

- Moedas de chocolate
São raros os exemplares em circulação

- Maria-mole: branca e rosa
São raras, mas ainda existem

- Pirulito chupeta
Continua no mercado

- Pirulito Zorro
Morreu junto com o herói

- Paçoquita
Firme e forte nas cantinas das escolas

- Pirocóptero
Continua.

- Push-Pop
Fácil de encontrar até hoje

- Q-Refresco
Ainda vende

- Sorvetes Dahum
Só existem lembranças

- Bala-chiclete
Tá quase aposentando

- Dindin Continua vendendo

- Sorvete de máquina
Sumiu do mapa. Hoje só o do McDonalds

- Pipocas Nhac
Firme e forte nas vendas. Ícone da pipoca doce

- Guaraná Caçulinha
Encontrado, embora tenha embalagem e rótulo mais modernos

- Buballoo
Primeiro chicle com recheio líquido. Sucesso até hoje

- Refrigerante Crush
Continua no mercado

- Refrigerante Grapette
Quem bebe Grapette, repete&quot. Lembra dessa frase? Pois é, o refrigerante continua sendo vendido em quase todo o país

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